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Cultura

O livro proibido de Simone de Beauvoir

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O que fazer com o livro de autora famosa que morreu sem querer que ele fosse publicado? Publique-se… É o caso de “Inseparable”, inédito de Simone de Beauvoir. Ela o escreveu em 1954, para guardar com outras histórias escritas quando jovem, e sua filha adotiva e responsável literária, Sylvie Le Bom-de Beauvoir, o liberou para publicação em outubro de 2020. Saiu em francês com o título no plural, “Les Inséparables” (As Inseparáveis), e passou a ser só “Inseparable” (Inseparável) nas traduções para o inglês. As inseparáveis eram ela, Simone (no livro, Sylvie), e Andrée (Zaza, na vida real), que se conheceram no primeiro dia de aulas na escola, quando ambas tinham nove anos. A amizade infantil cresceu na adolescência e na juventude. Uma livre, a outra religiosa, com a mãe, Madame Gallard, sempre a lembrando: “Entre para um convento, ou se case. Celibato não é uma vocação”. Resumindo: Sylvie/Simone se apaixona por Andrée/Zaza, que, no entanto, vê em Pascal Blonde (na verdade, o filósofo Maurice Merleau-Ponty) o destino desejado por sua família.
Pascal era heterossexual, devoto a Deus — enfim, o par ideal, mas ele não queria casamento tão cedo. O mestrando em Literatura Francesa na Universidade de Estrasburgo, Rodrigo Edvard Araújo Silva, escreveu que, nessa época, Simone estava em uma relação livre com o jovem estudante de filosofia Jean-Paul Sartre.
Zaza morreu em 1929. Seu rosto aparecia nos sonhos de Simone, conta a filha Sylvie. “Para neutralizar o vazio e nunca a esquecer”, Les Insparables foi para uma coleção de histórias impublicáveis. A escritora canadense Margaret Atwood, na introdução à tradução americana, Inseparable, procura mais motivos para que o livro tenha sido guardado. Um deles seria Sartre,

a quem “Simone cometeu o erro de mostrar o livro”. O julgamento sobre o romance foi político; “ele não entendia o significado do trabalho desvalorizado e não remunerado das mulheres, nem de ‘pathos’ (do grego, sofrimento, paixão e afeto), nem mesmo de pessoas individuais e suas circunstâncias”. Atwood pergunta: “Se De Beauvoir, campeã do livre arbítrio, acreditava que seu próprio livro não estava apto para ser lido, não deveríamos respeitar sua escolha?”

A resposta não faz muito sentido, agora que o livro está publicado e traduzido para vários idiomas. Assim aconteceu também a The Castle (O Castelo) de Kafka, que ele queria queimar, e as cartas de Sartre publicadas após sua morte, por decisão de Simone de Beauvoir.

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