Internacional
19.09.2021
Como o mossad matou o chefe do programa nuclear iraniano
O misterioso assassinato do chefe do programa nuclear iraniano, Mohsen Fakhrizadeh, foi desfeito, hoje, pelos repórteres Ronen Bergman e Farnaz Fassihi, do jornal New York Times.
Quando ele foi assassinado, em 2020, a imprensa iraniana, descreveu um combate entre atacantes e a segurança do cientista, numa estrada secundária para Absard, a leste de Teerã. Essa versão fora divulgada para minimizar mais um fracasso dos agentes iranianos. Era o sexto assassinato na equipe nuclear do Irã — só que a vítima, desta vez, era a mais importante de todas.
O serviço secreto israelense estava atrás de Fakhrizadeh desde 2007. Preparou o assassinato para 2009, mas no último momento, com os agentes com o dedo no gatilho, em Teerã, teve que cancelá-lo, ao suspeitar que cairiam numa emboscada. Para o novo atentado, 11 anos depois, drones e bombas foram descartados. A nova arma seria uma metralhadora belga de 7.62-mm, FN MAF, usada por franco atiradores, que, neste caso, estaria a 1.600 quilômetros de distância.
Agentes iranianos a serviço do Mossad estacionaram uma picape Nissan Zamyad numa pequena elevação da estrada para Absard. Por baixo de material de construção ficou escondida a metralhadora. Múltiplas câmeras, operadas via satélite, estavam dissimuladas pela carroceria, para captar não só o objetivo, mas todo o cenário em volta. Finalmente, uma bomba, para destruir todas os vestígios da “nova arma”, ficou armada. Todo equipamento usado, pesando quase uma tonelada, foi contrabandeado para o Irã, em pequenas peças. E a equipe que trabalhou nesta fase do plano de assassinato já estava longe, quando da execução.
Fakhrizadeh estava descansando no Mar Cáspio. Voltaria para sua casa em Absard porque daria aulas na Universidade de Teerã no dia seguinte. Quando viajava com a mulher, não permitia agentes dentro de seu carro, que não deixou ser blindado. Tanto ouviu falar de seu próprio assassinato que ele dava a impressão de não acreditar mais que pudesse acontecer. O Mossad calibrou os últimos delicados detalhes. O tempo em que as câmeras levavam para chegar ao distante franco-atirador foi calculado em 1.6 segundos. Levou-se em conta também que cada disparo daria um solavanco na picape. E era preciso, principalmente, confirmar que Fakhrizadeh estava ao volante de seu carro, um Nissan. Para isso, outro carro, suspenso sobre um macaco, sem uma das rodas, foi deixado num ponto da estrada em que o comboio deveria fazer uma volta em U e acessar, logo depois, a outra estrada para Absard. Nele havia câmeras.
Israel avisou os Estados Unidos que ia proceder ao assassinato. Era uma decisão grave, que poderia detonar uma guerra. Perto das 3h30 da tarde, o comboio com Fakhrizadeh fez a volta em U, e ele foi positivamente identificado. Um time de seguranças antecipou-se para verificar se a casa do cientista estava sem perigo para recebê-lo. Neste momento o deixaram exposto, com a esposa, dentro do seu Nissan. O franco atirador começou a disparar. Os três primeiros tiros acertaram o para-brisas. Um outro acertou as costas de Fakhrizadeh. Ele conseguiu descer do carro e ficar atrás da porta aberta do carro. Gritou para que sua mulher fugisse. Três novos tiros o acertaram na espinha. Ele ficou caído na estrada.
A picape azul Zamyad explodiu, mas não como imaginado. A maior parte do equipamento voou com a explosão, caindo depois ao chão, inutilizável, mas praticamente intacto. A operação durou menos de um minuto, com 15 tiros disparados.
(Fotos: The Guardian, Time of Israel, The Arab Weekly)