Internacional
25.10.2021
Deu na veneta: homenagear Bolsonaro
A pequena cidade Anguillara Veneta, perto de Veneza, deve votar, nesta segunda-feira, a concessão de cidadania honorária ao presidente Jair Bolsonaro, que estará em Roma, na sexta-feira, para uma nova reunião do G20, o grupo dos 19 países mais industrializados do mundo e a União Europeia.
Bolsonaro deverá visitar Padova, Pistoia e Anguillara Veneta, onde o bisavô dele nasceu. A prefeita da cidadezinha de 5 mil habitantes, Alessandra Buoso, teve a ideia de homenageá-lo, já que o receberia, e foi afogada em críticas enviadas inclusive por padres italianos “ofendidos” que vivem no Brasil.
“Pensei nas pessoas do meu país que migraram para o Brasil e construíram uma vida até chegar à Presidência, levando o nome de Anguillara Veneta para o mundo”, explicou a prefeita Buoso. Diante da folha corrida de Bolsonaro, ela acrescentou: “Não posso entrar na política brasileira. Infelizmente, o momento não foi favorável. Até ontem (quarta-feira) eu não sabia (das acusações e do resultado da CPI da Covid-19)”.
A proposta da homenagem não foi retirada e a Câmara Municipal deve votá-la nesta segunda-feira. A deputada Vanessa Camani, de Vêneto, lançou uma campanha pelas redes sociais, pedindo “não à cidadania a um racista, misógino e negacionista. No Facebook, ela postou:
“Faz arrepiar a proposta da prefeita de Anguillara Veneta de conferir a cidadania honorária a Bolsonaro, conhecido pelos elogios à ditadura militar, pelo desprezo e ofensas a mulheres e homossexuais, pelas ameaças de prisão aos adversários políticos, ou pelas grotescas acusações contra ONGs pelos incêndios que devastaram a Amazônia”.
O secretário regional do Partido Democrático, Alessandro Bisato, comparou a prefeita Buoso ao soldado japonês que não sabia que a guerra tinha acabado, isolado numa ilha do Pacífico. Sobre Bolsonaro, ele disse: “É um político alérgico à democracia e aos direitos civis, um negacionista da Covid-19 e antivacina. Graças à política de Bolsonaro, os brasileiros hoje estão mais pobres, menos seguros e nas garras da covid”.
De padres italianos no Brasil partiu uma declaração publicada pelo UOL: “Como cidadãos italianos que trabalham no Brasil há anos a serviço do povo brasileiro e da Igreja Católica brasileira (somos missionários, religiosos e ‘Fidei Donum’), nos sentimos profundamente entristecidos e desconcertados. Nós nos perguntamos sobre quais méritos? Como um homem que durante anos, e continuamente, desonra seu país pode receber honra na Itália?”