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Política

Lula-aqui – estadista é isso

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— Mais uma viagem de Lula a Paris — escala de um tour que incluiu Alemanha, Bélgica e ainda terá Espanha.
Muito já se falou sobre o discurso dele ontem, na Sciences Po, essa prestigiada “grande école” da França, na qual (diga-se de passagem) meu marido Celso Furtado iniciou seu doutorado, no pós-guerra, e da qual foi, nos anos do exílio, professor.
Mas é Lula que importa. No discurso longo, quase sempre lido, mas com improvisos em que a emoção e/ou o riso acabavam contagiando a todos, ele fez um balanço de seus dois governos e depois um espécie de “estado do mundo”. Na plateia, majoritariamente de jovens na faixa dos 20 anos, o comentário à droite et à gauche era: “como é carismático, quel homme d’État!”. Já professores e jornalistas estrangeiros comentavam as propostas que Lula formulou, nos minutos finais de sua fala, para uma nova governança (e que sem dúvida contaram com a colaboração do ex-chanceler Celso Amorim, também presente).
Entre elas: uma nova conferência internacional nos moldes do que foi, no pós-guerra, a de Bretton Woods; o fim do poder de veto nas Nações Unidas, sabidamente anacrônico; uma reformulação nos organismos internacionais; um banco de investimento do Sul (o projeto do banco dos BRICS) dedicado ao desenvolvimento; a taxação das transações internacionais (retomando a natimorta Taxa Tobin?); e, como sempre no discurso internacional de Lula, o fortalecimento da América Latina como bloco, o que facilitará a colaboração com a UE e a China. Não é pouco! São propostas que também têm sido feitas por lideranças centristas como Angela Merkel e Emmanuel Macron.
O que a presença de Lula na Europa deixa claro é que ele é muito maior do que o PT. Ele transborda o próprio partido, por isso mesmo poderá ensaiar alianças que para os petistas de truz parecerão espúrias, como a de uma (im)provável chapa Lula-Alkmin, ou outra do mesmo naipe.
O que a presença de Lula na Europa também deixa claro é que ele mantém, senão reforça, a estatura de grande líder mundial — em tempos de vacas magras nesse quesito.
Claro que os 580 dias na prisão, a decorrente absolvição em dezenas de processos contribuíram para essa aura. Mas os europeus não são bobos. Quando um Martin Schultz, líder da social-democracia, um Massimo d’Alema, ou outros menos conhecidos no Brasil, o visitam na Polícia Federal de Curitiba, isso é mais do que um gesto de solidariedade. Quando há poucos dias Olaf Scholz, provável sucessor de Merkel na Chancelaria, ou quando hoje o presidente Macron o recebe no Palácio do Elysée, é porque há uma aposta em Lula. Se ela vai se confirmar ou não ano que vem, veremos.
Mas é cristalino o recado de Lula a toda essa gente: “O Brasil não se resume a seu atual governante. Essa é a razão da minha viagem. Recuperar a confiança no Brasil.”
P. S. — ontem, me chamou a atenção avistar dois bolsonaristas no auditório da Sciences Po. Um, de raiz, outro, dos que devem ter dito em 2018 “que escolha difícil” para em seguida cravar um 17 na urna. Talvez seja sinal de que os ventos estejam mesmo mudando: vai que Lula ganha! poderão dizer: “eu estava lá, viu?”.
Relembrei então a primeira versão deste “filme”: quando em Paris havia diplomata brasileiro que atravessava a rua para não falar com exilado, e depois, quando os ventos da redemocratização sopraram, estava lá aplaudindo a conferência do ex-exilado. Antes assim!

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