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Clima

Naufrágio ou paranoia?

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Desde 2010 Paris começou a pensar seriamente na possibilidade de uma enchente daquelas que levam tudo de roldão e destroem uma cidade. Era o trauma voltando, era o misto de pavor e certeza de que a cada cem anos o Sena sobe sem parar, causando estragos terríveis.
A enchente de 1910, de fato, deixou uns 20 mil edifícios inundados, paralisou a metade das linhas de metrô que já existiam, causou muitos casos de escarlatina e tifoide. Pelos cálculos dos especialistas, a cada cem anos Paris tem uma dessas. Portanto, em torno de 2010 haveria outra. Não houve, mas os técnicos são categóricos: “teremos uma enchente proximamente, só não sabemos quando, mas sabemos que deverá durar entre 10 e 20 dias e que os parisienses não poderão fazer muito mais do que tentar sobreviver”.
Diante desse roteiro-catástrofe, dá-lhe de prevenir os moradores. Eu entre eles: moro em zona “inundável”. Não a mais inundável de todas, que é a beira do Sena, mas logo em seguida.
Depois dos primeiros alertas de 2010, vieram os de 2013, quando houve em Paris uma simulação que treinou voluntários para a possível tragédia: os prédios ficaram de repente no escuro, as famílias, privadas de luz, elevador, calefação, eletrodomésticos, computadores, internet.
Em 2016, houve uma enchente moderada, e eu, “inundável” recebi um manual da prefeitura com as providências a tomar. Tais como: ter sempre à mão um rádio de pilha, uma lanterna de pilha, um pequeno estoque de garrafas de água mineral. Ok, missão cumprida.
Agora, veio outro alerta, relembrando as recomendações anteriores e a elas acrescentando a de ter sempre à mão documentos de identidade, remédios, apólice do seguro, um ou dois celulares. E, dentro de casa, elevar tudo o que for possível, como objetos importantes ou que poluam.
Desde 2010, o Louvre e o Musée d’Orsay, à beira do Sena, já transferiram parte de seus acervos (normalmente guardados no subsolo) para depósitos seguros nos pontos mais altos da capital. Foram feitos mais reservatórios para regular a vazão do rio, cujo leito foi mais escavado. Mas sempre há o imponderável: pluviometria extraordinária, neve e consequente degelo exagerado nos Alpes (onde é a nascente do Sena), enchentes dos afluentes. Sem falar que hoje Paris é muito mais dependente das tecnologias, a começar pela fibra ótica, e da eletricidade (e tudo isso é subterrâneo).
O plano de socorro será ativado quando o Sena chegar a 5,50m no Pont d’Austerlitz (na enchente de 1910 chegou a 8,6m). Essa ponte é justamente a que fica mais perto de casa, e bem em frente ao zoológico do Jardin des Plantes. Teremos ursos e macacos nadando no Sena? Acho que vou retomar a natação na piscina do bairro — para treinar enquanto é tempo.
Fotos: as cheias de 1910 e de 2016.

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