Artes
05.11.2021
Nelson, o sorriso e a cor
Foi-se o Nelson Dias-Lopes. Ontem, em Paris. O conheci pouco depois de termos, ele e eu, cada um de seu lado, chegado a Paris nos idos dos 70. Depois, as vidas tomaram rumos distintos, e embora na mesma cidade nunca mais nos cruzamos. Até que uma vizinha, amiga comum, nos pôs em contato novamente.
Quando o reencontrei, fiquei feliz em saber que nesses quarenta anos de Paris Nelson construíra uma sólida carreira de artista plástico, com dezenas de exposições, em Paris e no Rio, sim, mas também em Gstaad, em Beirute e outros quadrantes.
Leio num site de arte que Nelson começou pelas colagens com velhos jornais, depois foi abandonando a pintura, à qual voltou mais adiante. O que tive a chance de ver na casa dele, no atelier, ou em exposições mais recentes sempre me pareceu uma criação muito forte. Abstrata, sim, mas com linhas nítidas que deixam transparecer, ainda que em metáforas, rostos, corpos humanos. Nessas assemblages a gente sente uma harmonia de relevos, materiais, cores ao mesmo tempo de brilho intenso e transparência.
O mesmo brilho e a transparência do riso de Nelson, da voz grave traindo o sotaque carioca que ele e eu compartilhávamos, a gesticulação, as frases decisivas, decididas e concordantes quando o assunto era Brasil, era política. Tudo isso nos nossos jantares, em geral na pizzaria aqui perto, ou na casa dele e de Philippe, um lindo térreo numa rua sossegada, cheio de jardins e flores, objetos de arte de imenso bom gosto, e nem falemos da sofisticação com que Nelson preparava os jantares, os pratos servidos. Que falta a gente vai sentir de você, Nelson!
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